Paulo Duarte investe dez milhões na compra de duas empresas em Espanha

Paulo Duarte investe dez milhões na compra de duas empresas em Espanha

Transportadora portuguesa, que está também a olhar para os mercados da Polónia e República Checa, quer faturar perto de 200 milhões em 2025. Mudança de instalações para Carregado prevista até ao final do ano.

O Grupo Paulo Duarte, especialista no transporte de produtos alimentares e de mercadorias perigosas, comprou as espanholas HRBG – Energy Logistics e a HurTrans – Transporte de Líquidos Alimentares, num investimento global de dez milhões de euros, revelou Gustavo Paulo Duarte, diretor-geral da empresa portuguesa. Estas aquisições em Alicante, materializadas no final de 2021, foram o culminar de um plano que vinha a ser preparado nos últimos três anos com o objetivo de ganhar peso no espaço ibérico. “A capacidade de crescimento da Paulo Duarte estava a ficar limitada face à dimensão do mercado português”, e surgiu a oportunidade de “adquirir estas empresas e reforçar em áreas onde já somos líderes”, justificou o empresário. Este ano, o grupo prevê registar uma faturação consolidada no mínimo de 108 milhões de euros, com a casa-mãe a valer 62 milhões, ou 57%. Mas o objetivo é que, a breve prazo, a operação em Espanha pese 60% no negócio.

Para já, a transportadora portuguesa, que assumiu as rédeas da gestão das firmas espanholas em dezembro passado, está focada em potenciar as sinergias entre as várias empresas, aumentar a eficiência e melhorar a gestão de recursos, tendo em vista o crescimento sustentado do negócio e o incremento de faturação. A HRBG, onde a Paulo Duarte comprou uma posição de 51%, veio reforçar a atividade do grupo nacional na área das matérias perigosas (químicos, petróleos, combustíveis) e a HurTrans, adquirida a 100%, aportou a logística da área dos sumos. Como realçou Gustavo Paulo Duarte, “nós já éramos líderes ibéricos no transporte de líquidos alimentares a granel (óleos, vinhos, azeite, leite…) e agora comprámos a maior concorrente, que tinha o transporte de sumos, que nós não tínhamos”. E, como enfatizou, a integração “está a correr muito bem”, agora, “somos dos maiores da Europa”.

O grupo Paulo Duarte, que movimenta 1100 camiões e emprega mais de 1300 pessoas, vai centralizar as suas operações no Carregado, onde adquiriu um terreno de 13 hectares para construir novos escritórios e uma unidade de alojamento para os colaboradores. O plano para os próximos anos é de contínuo crescimento, com o gestor a admitir que, em 2025, a faturação esteja próxima dos 200 milhões. E a internacionalização não deverá ficar por Espanha. Como adiantou, “precisamos de dominar o mercado do sul da Europa, mas também zonas como a Polónia e a República Checa”.

Faltam motoristas

As perspetivas de futuro na Paula Duarte são animadoras, embora o setor atravesse um momento crítico, apontou o empresário. “A indústria agroalimentar está a crescer e não se vê a cadeia logística a acompanhar este crescimento”. Aliás, “nos últimos anos, tem-se assistido à perda de capacidade instalada no país. Não há camiões, não há motoristas e o mercado está a crescer sem suporte”. Como realçou, “as transportadoras têm problemas de tesouraria: 88% dos custos (salários e combustíveis) são pagos a pronto e os clientes pagam a 90 ou 120 dias. Isto faz desaparecer as empresas”. O setor enfrenta também o ambiente de incerteza que se abateu sobre as economias, com a inflação a disparar, as taxas de juro a subir e a sombra de uma recessão na Europa.

Na Paulo Duarte, os preços do transporte ao cliente aumentaram entre 10 e 13% desde o início do ano, “mas não chega para pagar o incremento de custos”. Como recordou, só o combustível representa 33% e o preço tem estado numa escalada vertiginosa. “Como consumidor, pergunto-me se vamos ter capacidade para pagar tudo aquilo que aí vem – inflação a 10%, subida dos juros…”. O gestor lembrou ainda a enorme escassez de motoristas na Europa, apontando a falta de 80 a 100 mil profissionais. “Este é um problema estrutural, a que se junta atualmente o conjuntural”. Na sua opinião, não é fácil recrutar, embora hoje “já não se trabalhe 10 e 15 horas como há 20 anos, os camiões são diferentes e o setor paga para compensar as horas que estão fora de casa. Um motorista ganha entre 1400 e 1800 euros líquidos por mês”. Para Gustavo Paulo Duarte, é essencial “valorizar a profissão”, sendo que as empresas “têm trabalhado muito para a dignificar”. Agora, “não faz sentido que só a partir dos 21 anos seja possível tirar carta de pesados, perde-se logo dois anos”.

Neste contexto, a expansão da transportadora em Espanha concretizou-se em boa altura: o grupo ganhou escala e aumentou a rentabilidade do negócio. “Hoje procura-se capacidade, profissionalização, e nós estamos a investir para dar essa resposta aos clientes”, inclusive ao nível da sustentabilidade ambiental, afirmou. Na reta final de 2021, o grupo adquiriu 181 viaturas de última geração, num investimento de 15 milhões, e nos últimos dois anos conseguiu reduzir em 30% a sua pegada ecológica. Gustavo Paulo Duarte gostaria de ver estes esforços compensados. “Não há qualquer tipo de apoio, seja no PRR seja no Portugal 2020, e é preciso apoiar as empresas na transição, criar mecanismos que promovam o mercado a dar o salto e a fazer estes investimentos”.

Fonte: Dinheiro Vivo

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