E se o cliente não puder ter tudo o que quer em pouco tempo?

E se o cliente não puder ter tudo o que quer em pouco tempo?

Grande operadores da logística em Portugal analisaram desafios do sector para 2022 na Mesa Redonda do Jornal Económico. Modelo “Just in Time” pode ter os dias contados devido à falta de recursos humanos no sector, escassez de armazéns e custos acrescidos para as empresas.

A pandemia deixou claro que a logística vai ter de mudar de vida. Ou pelo menos vai ter de repensar o que vai fazer no futuro. Mas isso não quer dizer que seja a única a adaptar-se a uma nova realidade em que o mundo pára de uma hora para a outra. É preciso fazer planos de contingência, apostar na automação e digitalização, diversificar os pontos de abastecimento, mas também fazer ver ao consumidor que o “just in time” (o cliente a ter o que quer à hora que quer) pode ter os dias contados.

“A cadeia de abastecimento vai ter que repensar o modelo: o “just in time” não sei se vai cá continuar… Todos nós vamos ter que nos aperceber se isto é temporário ou se é uma mudança do paradigma”, considera Gustavo Paulo Duarte, da diretor geral da Transportes Paulo Duarte.

E daqui para a frente não será mais fácil, diz o mesmo responsável na mesa redonda do Jornal Económico sobre os Grandes Desafios do Transporte da Logística em 2022. “Com pandemias ou sem pandemias isto não será mais fácil. Até que a tecnologia nos ajude a tendência é esta. Mas de uma coisa eu tenho a certeza: mais motoristas e mais capacidade não teremos. E portanto, a própria cadeia de logística vai ter que se ajustar, vamos ter que nos habituar a não ter tudo todos os dias, a todas as horas”.

Os armazéns que existem hoje em Portugal “não chegam” e não há forma de manter as coisas como o consumidor estava habituado. “Temos de repensar a nossa capacidade de entrega e o tratamento que damos às nossas pessoas, valorizá-las, isto se queremos que novas pessoas entrem num sector que não é nada sexy”, diz Gustavo Paulo Duarte. “Não vejo nenhum filho de alguém que esteja nesta plateia a querer ser motorista de profissão num futuro próximo”, conclui.

Diogo Marecos, diretor regional da operadora portuária Yilport, não está tão certo que o `just in time’ vai ter de acabar. “Depois de termos habituado os consumidores a receberem os seus produtos quando querem vai ser muito difícil não conseguirmos entregar. Acreditamos que a pressão sobre os operadores vai continuar a existir”.

Neste ponto, Filipe Carvalho, da tecnológica Routyn, diz que o paradigma do consumidor online já mudou. E isso impacta, e de que maneira, as transportadoras. “Grande parte das encomendas tem estado a ser medida em horas, já não em dias. Mais recentemente ainda temos assistido a esta explosão do quick-commerce, em que as entregas já não se medem em horas, e sim em minutos. Só temos um cliente em Portugal que faz isso, mas é uma experiência interessante. Por isso as empresas dizem: “Se não estivéssemos prepa- rados, com um sistema, processos e automatismos, estávamos ‘fritos’ com este grande aumento de procura”, complementa.

Joaquim Vale, administrador da Santos e Vale, assume que “é difícil pensar em grandes planos de contingência quando o sector está tão dependente do combustível”. “Podemos eventualmente ter alguma capacidade de armazenamento, mas é difícil pensar em fugir atualmente à dependência energética dos combustíveis fósseis. Nós estamos no limiar de uma transição tecnológica, que ainda não aconteceu e que é necessária acontecer. Mas tem de haver vontade política”, atira.

E mesmo a introdução de novas tecnologias de “otimização de processos e de rotas” não resolve tudo. “Nos primeiros tempos conseguimos alguma poupança, mas depois essa poupança também é passada para o cliente e para o mercado. Acaba por ser partilhada”.

Já Luís Mota, diretor comercial da STEF, está convencido que a digitalização e a automação vão assumir ainda mais importância.

“Na STEF concluímos que temos de acelerar tudo aquilo que estávamos a desenvolver. Se tínhamos um plano a um ou dois anos, provavelmente vamos ter pôr em prática o quanto antes, porque é crucial ter equipas multidisciplinares, é crucial ter pessoas que incorporam as operações, que rapidamente conseguem estar a produzir e que não carecem do período formação de duas ou três semanas, porque um dos efeitos que foi mais penalizador foi o das ausências, o absentismo”

. Mas o futuro vai passar por termos mais do que um ponto de abastecimento, não nos focarmos em um único fornecedor. “É o modelo de redundância que as tecnologias de informação há muito adotaram. E isto abre todo um novo conjunto de oportunidades, para Portugal em concreto”, complementa Diogo Marecos. ”

A China não tem que ser a fábrica isolada do mundo ou a única alternativa. A Turquia tem assumido alguma dessa capacidade e está à porta da Europa. O futuro vai passar por aqui”, diz.

Transportadoras entre a aposta na sustentabilidade e o apelo a mais apoio

Sector dos transportes e logística alerta para a necessidade de se adotar medidas para travar o impacto dos combustíveis.

O sector dos transportes e da logística tem grandes desafios pela frente em 2022, nomeadamente o aumento do preço dos combustíveis. Uma subida que acaba por se refletir diretamente nos bolsos dos consumidores. As empresas pedem mais medidas, numa altura em que procuram usar fontes alternativas de energia. Mas neste caminho encontram também uma subida dos custos.

“A questão dos combustíveis não é uma questão nova”, começa por dizer Joaquim Vale na mesa redonda realizada a propósito do especial “Quem é quem nos Transportes e na Logística” publicado pelo Jornal Económico.

O administrador da Santos e Vale relembra que houve um abrandamento da tendência de subida dos preços em 2020 devido ao travão imposto pela pandemia à economia. No entanto, registou-se novo aumento a partir do primeiro trimestre do ano passado e, desde então, “temos vindo a assistir a uma escalada do custo do combustível por várias razões”, nomeadamente “razões de mercado externo”, mas também pela carga fiscal do país. “A ANTRAM já veio avisar que a carga fiscal que existe sobre o sector sobre o custo do combustível é demasiado pesada” e isto reflete as políticas do país em torno da questão energética, salienta.

É preciso perceber “quanto é que queremos que as pessoas paguem mais”, refere, por outro lado, Gustavo Paulo Duarte, da transportadora Paulo Duarte, notando que o “Governo pode criar medidas diretas às pessoas” ou “criar medidas de apoio indiretas relativamente a um sector que toca efetivamente em tudo aquilo que as pessoas compram ou transacionam”.

“Na taxação do gasóleo, o nosso sector ainda tem o gasóleo profissional, mas já não chega”, alerta, defendendo que a “diretiva do gasóleo profissional deve ser alargada a mais viaturas”, estando hoje “muito limitada na tipologia de viaturas que têm acesso a benefícios”. Há “matéria para trabalho”.

 

Há alternativas energéticas, mas também são caras

“Nesta altura em que os custos energéticos têm vindo a aumentar, há matérias e diretrizes que têm que ser trabalhadas e nomeadamente esta questão do gasóleo profissional parece-me que tem que ser mexida já”, afirma Gustavo Paulo Duarte. O custo do gasóleo será aquele que será refletido no preço, porque, diz, “não temos margem para assumir”.

Perante a subida dos preços dos combustíveis, as empresas têm procurado fontes energéticas alternativas. Mas acabam por encontrar também aumentos, tanto na eletricidade como no gás.

“Temos tentado mitigar parte desta tendência de crescimento do preço do combustível”, diz Luís Mota, diretor comercial da STEF, explicando que têm “trabalhado muito naquilo que é a inovação a adaptação e também na incorporação na nossa frota de veículos mais eficientes que nos permitam reduzir os impactos junto dos nossos clientes deste crescente aumento do preço do combustível”

. A eletricidade e o gás “são fontes alternativas à questão dos combustíveis, mais amigas do ambiente”, mas “acaba por ser um contrassenso porque temos alternativas, mas as alternativas também deixam de ser razoáveis do ponto de vista do custo”, afirma, notando que este trabalho também está feito junto dos clientes, apostando numa diminuição das frequências de entregar, com “ganhos a nível económico no custo do próprio transporte”. Esta posição também é apoiada por Joaquim Vale, que afirma, que “é mais caro a exploração de um veículo a gás do que é em combustível convencional, a gasóleo, o que é um contrassenso”.

Também as cadeias de abastecimento, que sentiram igualmente o impacto do aumento dos custos, estão a dar estes passos no sentido da sustentabilidade, nomeadamente na Yilport Iberia. “Uma das coisas que estamos a fazer na Yilport, porque precisamos ainda de combustíveis, é uma transição energética e uma aposta na sustentabilidade”, nomeadamente através da eletrificação, afirmou Diogo Marecos, “general manager” da empresa.

Outra forma de reduzir os custos pode ser através da tecnologia, algo que já acontece lá fora. “A tecnologia ajuda a reduzir custos”, refere, por outro lado, Filipe Carvalho, managing partner” da Routyn. “Temos assistido a vários clientes em Inglaterra, na Polónia, a pediram soluções relacionadas com a eletrificação e, portanto, com veículos elétricos”, afirmou, relembrando que em Londres, onde os pesados não podem circular em determinadas horas, houve várias empresas que se uniram para criarem mecanismos de distribuição dentro da cidade, nomeadamente através de veículos elétricos.

Subscreva a nossa newsletter para conhecer as novidades da Paulo Duarte.



    This site is registered on wpml.org as a development site.