O que mais espera e o que mais teme do novo governo?

O que mais espera e o que mais teme do novo governo?

Empresários e dirigentes de sectores económicos revelam as suas esperanças e receios quanto ao executivo que resultará das eleições legislativas deste domingo. Rapidez na formação e força para fazer as reformas necessárias são duas características pedidas por todos os que aceitaram o desafio do NOVO, enquanto o “mais do mesmo” e a paralisação da economia se destacam entre as preocupações.

O que mais espera e o que mais teme do novo governo?

Num momento particularmente complexo por causa da pandemia, Portugal deve evitar a todo o custo passar longos meses em frágeis negociações para formar governo. O que os portugueses decidirem no dia 30 deve obrigar – repito, obrigar – os vários partidos a encontrarem uma solução governativa rápida, sólida e com força política. Ou seja, é fundamental que, se for necessário, os partidos se ponham de acordo e evitem uma espécie de leilão de medidas que exclua todas as decisões que é urgente tomar. O dinheiro que chegará via Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) pode disfarçar as fragilidades do nosso país, mas o acerto das decisões dependerá da existência de um governo forte, exactamente o contrário de um governo-puzzle em que as cedências se convertem em inacção e atraso. Tudo isto se reflectirá na vida das empresas e no bolso das famílias. O PRR e o Portugal 2030 não são meros envelopes financeiros, são fortíssimas alavancas de crescimento que ou ajudam a mudar o perfil económico de Portugal ou nos deixarão mais para trás. Os desafios – palavra gasta, mas precisa – são imensos. Há países que podem dar-se ao luxo de esperar meses e meses por um novo governo. Portugal não tem essa margem: exige-se a todos os partidos sentido de responsabilidade e que estejam à altura das circunstâncias.

António Saraiva
Presidente da CIP

O que mais espera do novo governo?

Do futuro governo espero a defesa de uma sociedade centrada na pessoa, que promova a criação de riqueza para benefício dos seus cidadãos, criando condições para a sua efectiva distribuição. Que defenda a propriedade privada, a igualdade de direitos entre todos, o estabelecimento de um salário digno que permita que cada cidadão crie condições mínimas de vida que proporcionem o seu desenvolvimento pessoal e das suas famílias em termos culturais, de formação e de lazer. Espero um governo composto por pessoas que querem servir o país, e não servir-se dele. Que acreditam que, para receber, é preciso, em primeiro lugar, dar.

O que mais teme do novo governo?

Temo um governo que continue a incutir o medo nos cidadãos, alargando a paralisação do país e da sua economia, levando ao desespero milhares de empresários, empresas e trabalhadores. Temo um governo que não promova a criação de riqueza e apenas defenda que basta distribuir o que não há, e que promova uma maior participação do Estado na actividade económica. Temo um Estado que seja dono da educação dos nossos filhos, sem termos qualquer direito de escolha. Temo um governo que se preocupe apenas com as suas directrizes ideológicas, deixando o bem-estar das pessoas para segundo plano.

Bruno Bobone
Pres. Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa

O que mais espera do novo governo?

O que mais espero de um futuro governo, enquanto presidente da Associação Comercial do Porto, é que haja coragem para aplicar as reformas de que o país precisa. Desde logo, adoptar um quadro fiscal mais competitivo para as empresas nacionais, que estimule e favoreça o investimento, a produção e o emprego. Sem empresas não há crescimento económico. Por outro lado, combater a falta de mão-de-obra, qualificada e indiferenciada, revendo a aplicação das leis laborais e o regime de apoios sociais, numa aproximação ao conceito de flexissegurança, sem descurar o Inverno demográfico e uma política de imigração mais integradora. Gostaria também de ver concretizado o enlevo recente pela regionalização, atacando de frente a falta de coesão territorial. Por último, que não sejam repetidos exemplos de desperdício como a TAP.

O que mais teme do novo governo?

O que mais temo é que possamos ter mais do mesmo: uma visão conformista e não reformista para o país, que encara o aumento do Estado e da despesa pública como solução, sem cuidar da actividade económica.

Nuno Botelho
Presidente da Associação Comercial do Porto

O que mais espera e o que mais teme do novo governo?

As eleições devem ser sempre um momento de clarificação e, neste caso, o que os portugueses querem é uma solução governativa sólida, que permita fazer as reformas necessárias e que ponha decisivamente o país a crescer. O cenário mais negativo seria uma composição do Parlamento que não permitisse um governo rápido ou que obrigasse a compromissos que pusessem em causa o carácter reformista e o foco no crescimento. Precisamos de um governo mobilizador.

No caso específico da saúde faço votos para que a próxima legislatura comece por um plano de recuperação da actividade assistencial, que finalmente traga dotações suficientes para o Serviço Nacional de Saúde, que permita a implementação do Plano de Recuperação e Resiliência com financiamento para transições digital e energética das instituições de saúde e que, sem preconceitos, não hesite em reforçar a articulação entre os diversos agentes do sistema de saúde, para melhor servirmos as necessidades dos portugueses. Que se assuma a saúde como vector de desenvolvimento.

Óscar Gaspar
Presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada

O que mais espera do novo governo?

Um governo com ímpeto reformista, capacidade de acção e que implemente de forma rápida. Para isso é necessário um governo com programa curto. Desconfio sempre que um governo quer implementar 100 medidas. Prefiro governos que façam dez coisas com impacto.

É importante que se foque no essencial, a saber:

1) Desenvolvimento da economia: aprovação rápida dos projectos/candidaturas a fundos comunitários (hoje é tudo muito lento e com atrasos, em contraciclo com países do leste da Europa).

2) Digitalização do Estado e da economia – ministérios e institutos públicos e autarquias – e consequente modernização do Estado, promovendo a proximidade dos cidadãos dos órgãos de decisão (o mundo num smartphone, ao alcance de um clique). Ex.: extensão da utilização da chave móvel digital a todos os cidadãos.

3) Diminuição do número de funcionários públicos (com a digitalização, o Estado ficará mais eficiente, por isso não necessitará de tantos).

4) Reorganização do ensino, adequando as matérias às necessidades da economia (formar programadores, mas também fomentar a interdisciplinaridade dos cursos, cruzando as ciências sociais com as ciências exactas).

5) Abordar as novas realidades demográficas, i.e., políticas de apoio aos adultos seniores activos, integrando-os, monitorizando e protegendo os mais isolados e desfavorecidos.

6) Capacitar o Banco de Fomento, dando-lhe capacidade operacional e visão de mercado: dinheiro para capital de risco, smart money para startups (promover não só unicórnios, mas também centauros; mas, principalmente, ter competências para colocar as startups no mercado, em lugar de despejar dinheiro em boas ideias com maus gestores e esperar que as empresas sucumbam mais cedo ou mais tarde), capital para indústrias exportadoras que carecem de escala e precisam de dinheiro para aquisições ou para se robustecerem.

7) Promover por decreto a economia circular, única forma de fazer crescer certas áreas de negócio – ex.: descartáveis para o sector hospitalar – e de promover a economia sustentável.

8) Apoio aos pequenos negócios e ao auto-emprego, dotando o mercado de soluções de financiamento a sério para aqueles que pouco têm e querem lançar o seu negócio: um grande programa de microcrédito que apoie o empreendedorismo de banda larga, menos sofisticado mas que, no fundo, ainda predomina em Portugal.

O que mais teme do novo governo?

Um governo incapaz de decidir, preso nas rotinas dos procedimentos. Ministros que carregam pastas mas que, ao fim de quatro anos, não têm nada de relevante para apresentar. Temo um governo que seja prisioneiro de uma agenda ideológica, que vire mais à esquerda. Conversas sobre ideologia de género, regionalização (num país tão pequeno como o nosso!), cidadania enviesada, temas ditos fracturantes pouco ou nada nos interessam. Só distraem do essencial. Do que precisamos é de fazer crescer a economia, para todos vivermos melhor e mais felizes, com redistribuição da riqueza em justa medida. Para isso era desejável que os partidos populistas – Bloco de Esquerda, PCP e Livre – estivessem longe do governo.

João Koehler
CEO da Elastictek

O que mais espera do novo governo?

Espero um governo com ambição e coragem para fazer o que é preciso. Um governo capaz e que tenha a ambição de relançar a economia, que promova o crescimento económico do país e que apoie as empresas, que são aquelas que criam verdadeiramente valor. Um governo com coragem para implementar políticas económicas com visão de médio e longo prazo e que não pense exclusivamente no curto prazo.

O que mais teme do novo governo?

Temo ter um governo de remendos, independentemente do partido que venha a liderá-lo. Um governo que se constitua não para servir os portugueses, mas para servir os interesses partidários, sem uma visão estratégica clara para o desenvolvimento económico do país. Temo um governo instável que faça o país perder tempo e a oportunidade que a bazuca representa. O Plano de Recuperação e Resiliência não pode descurar as empresas, a iniciativa privada, como se tem ouvido falar, e ser quase exclusivo para a realização de investimento público. Um governo agarrado a opções ideológicas extremas que não defenda verdadeiramente o interesse colectivo dos portugueses.

Virgílio Macedo
Bastonário da Ordem dos ROC

O que mais espera do novo governo?

O que se espera de um governo é que seja um parceiro das empresas no objectivo nacional de criação de riqueza e de crescimento económico, e que seja justo e equilibrado nas decisões que adopta. Especificamente no caso do comércio (não alimentar) e na restauração têm sido dois anos de enormes dificuldades e nem sempre se sentiu, por um lado, que tenha havido partilha equitativa de sacrifícios e, por outro lado, que estes sectores, que encerraram durante vários meses e continuam condicionados no desenvolvimento da sua actividade, tenham tido o apoio justo e necessário para compensar os prejuízos.

O que mais teme do novo governo?

O meu único temor é que um futuro governo tenha receio de aplicar políticas de promoção do crescimento económico e do bem-estar das suas populações.

Miguel Pina Martins
CEO da Science4You

O que mais espera do novo governo?

Que as políticas públicas tenham por finalidade incentivar o arrendamento, bem como devolver a confiança aos senhorios. Para esse efeito, o governo deverá considerar empossar os senhorios da qualidade de parceiros. O direito fundamental à propriedade deve ser equacionado a par do direito fundamental à habitação, reconhecendo o esforço dos senhorios que investem as poupanças acumuladas do seu trabalho. Os incentivos deverão chegar através da via fiscal, considerando abolir o AIMI e reduzir a taxa liberatória de 28% para todos os contratos, incluindo os celebrados em data anterior a 1990, estes que são vinculísticos e que mantêm as rendas congeladas porque indexadas aos rendimentos dos arrendatários, impondo aos senhorios que se substituam ao Estado na sua função social, sem qualquer contrapartida. Que o novo governo se empenhe na devolução da confiança aos senhorios através da essencial estabilidade legislativa, pelo que se mantenham os propósitos da lei de 2012, começando por colocar um ponto final no congelamento das rendas.

O que mais teme do novo governo?

Temo que se mantenha a perseguição aos senhorios e à propriedade como recurso fácil para encher os cofres do Estado. Temo que se considere a poupança do trabalho acumulado investida no imobiliário como motivo de sanção. Temo que perdure a instabilidade legislativa tão redutora dos direitos dos senhorios.

Iolanda Gávea
Vice-presidente da Associação Lisbonense de Proprietários

O que mais espera do novo governo?

O governo que resultar destas eleições legislativas, qualquer que seja ele, rapidamente deverá recuperar os níveis de execução do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR), que actualmente consideramos inaceitáveis, assim como agilizar os pagamentos aos agricultores, o que é imprescindível para manter o investimento no sector. Esperamos também que as competências do Ministério da Agricultura sejam restabelecidas, nomeadamente no que concerne à tutela das florestas, da água destinada ao regadio e dos animais. Além disso, esperamos do futuro governo uma estratégia eficaz para combater os efeitos das alterações climáticas, particularmente em relação ao aprovisionamento de água, assim como o rápido estabelecimento de uma boa infra-estrutura 5G nos territórios rurais, no sentido de garantir a competitividade do sector.

O que mais teme do novo governo?

O que inequivocamente rejeitamos é o desmantelamento do Ministério da Agricultura ou a sua subjugação à tutela do Ambiente, assim como um governo condicionado pelo PAN, cujos objectivos são completamente incompatíveis com o mundo rural e com a actividade e o modo de vida dos agricultores.

Luís Mira
Secretário-geral da CAP

O que mais espera do novo governo?

A esperança, como bem se diz, é a última a morrer. Como empresário e líder sectorial, espero que nos deixem trabalhar. Deixem os empresários decidirem aumentar os salários porque é a nossa vontade. Não precisamos de políticos que nos digam o que fazer. Precisamos, sim, que se criem condições para que se consiga fazê-lo. Que se preveja que dois trabalhadores recebam de forma diferenciada porque um trabalha melhor que outro, que se esforça por ser melhor e deve ser reconhecido, que possa substituir o que não quer trabalhar, e com isto criamos condições reais para que se consiga pagar mais e melhor. A narrativa de que os patrões acordam todos os dias de manhã a pensar como prejudicar o trabalhador já não cola. Trabalhadores somos todos. E todos precisamos de todos. Trabalhos iguais, vencimentos iguais já teve o seu tempo… Não há trabalhadores iguais. A empresa que não souber distingui-los não terá sucesso nem pessoas para a seguir. Reformem, evoluam, e cresceremos.

O que mais teme do novo governo?

Que nada se faça de diferente…

Gustavo Paulo Duarte
CEO dos Transportes Paulo Duarte

Subscreva a nossa newsletter para conhecer as novidades da Paulo Duarte.



    This site is registered on wpml.org as a development site.